SÃO PAULO - Londres, dia 19 de maio de 2011. Na conferência anual da Royal Economic Society, realizada na Universidade de Londres, dois economistas israelenses causaram comoção ao apresentar um estudo realizado em 2010. Eles mostraram, por meio de números, que a beleza ajuda homens e prejudica as mulheres na hora da seleção para um emprego. "Nossa pesquisa chamou bastante atenção dentro e fora da conferência", diz o economista Ze’ev Shtudiner, um dos responsáveis pelo trabalho (leia mais na entrevista abaixo).
A presidente da UPS no Brasil, Nadir Moreno
A reação trouxe de volta a discussão: a beleza ajuda ou atrapalha no mercado do trabalho? O assunto vem sendo abordado desde a década de 1970, com pesquisas mostrando que os belos ganham mais e são promovidos mais rapidamente. A diferença agora, apontada pelos israelenses, é a questão da suposta discriminação das mulheres bonitas na hora da escolha, reduzindo suas chances de contratação em até 30%. A hipótese formulada para explicar os resultados é, no mínimo, polêmica. "Como a área de recursos humanos tem mão de obra predominantemente de mulheres, o motivo é a inveja feminina", afirma Shtudiner.
Bonitas. Mayara Pires Duarte de Souza, de 24 anos, procurava uma oportunidade de estágio, quando foi chamada para uma entrevista em uma agência de assessoria de imprensa. "Eu estava bem produzida, mas não vulgar. A entrevistadora me olhou de cima à baixo. Depois começou a fazer perguntas muito pessoais, como a relação com meu namorado e histórico financeiro da família. Perecia que ela se sentia incomodada com a minha presença", conta Mayara. "No final, a entrevistadora disse que eu não precisava daquele emprego, pois era muito bonita."
Ela acrescenta: "A acho que a beleza atrapalha, mas me recuso a me produzir menos. Não posso deixar de ser quem sou".
Já a recepcionista de eventos Vivian Amaral, de 30 anos, vive um paradoxo. Ela trabalha com eventos - uma área em que a beleza conta muito - mas já se sentiu discriminada na hora de seleções, justamente, por ser considerada bonita demais.
"Já ouvi várias vezes a desculpa de que era bonita demais para trabalhar em um evento, porque eu acabaria distraindo as pessoas do produto. Se quem está chefiando o recrutamento é mulher, a situação é pior ainda", conta Vivian.
Ela relata um caso que a marcou. Passou por um processo seletivo em três etapas para figurar em uma festa de música eletrônica, patrocinada por uma marca de cerveja.
"Uma das recrutadoras ficou implicando comigo durante todo o tempo. No final, contra sua recomendação, eu fui aprovada. Mas não sem uma ofensa final." Segundo Vivian, a mulher deu um "conselho" para que ela mudasse a cor do cabelo, loiro, pois estava vulgar.
Curiosa sobre a questão estética, a publicitária Juliana Penha Gomes realizou, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), seu trabalho de mestrado sobre o tema. A monografia se chama "Beleza e Carreira no Brasil - O significado da beleza para jovens executivas e seu papel no mercado de trabalho". "Resolvi investigar, pois desconfiava que a aparência realmente influenciasse", conta a publicitária.
Após dois anos de pesquisa e 15 executivas entrevistadas, ela está convencida de que a beleza ajuda na carreira, porém ser bonita demais é prejudicial. "É uma questão de adequação e padronização ao perfil da empresa."
Uma das histórias que ela recolheu ilustra como é tênue a linha entre a vantagem e a desvantagem. "Ouvi, em um depoimento, o caso de uma jovem que o gerente queria contratar. Mas ela era muito bonita, tipo modelo, e o diretor da empresa vetou a admissão. Ele justificou dizendo que o gerente não conseguiria se concentrar e ela ia acabar atrapalhando a rotina."
Outros fatos apurados surpreenderam a publicitária. Todas as entrevistadas afirmaram que preferiam ter um gestor homem. "Pude perceber que elas associavam as mulheres a estereótipos de falsidade e inveja. Uma comentou que, quando a chefe era mulher, precisava pensar mais para falar e não podia ser direta, pois tinha medo de como seria interpretada."
Gutemberg de Macedo, fundador da Gutemberg Consultores, especializada em recolocação de executivos, confirma. "Já ouvi de muitas profissionais que elas não gostariam de trabalhar com uma mulher gestora. Por incrível que pareça, é por causa de inveja ", conta Gutemberg.
A presidente nacional da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Leyla Nascimento, não acredita na discriminação. "As empresas estão focadas no seu desenvolvimento e, por isso, querem os melhores. No passado, a beleza pode ter sido importante, mas hoje já não é prioridade. O que conta é a postura profissional, conhecimento e competência de cada um", afirma Leyla.
Predomínio. No entanto é inegável, que o setor de RH é dominado pelas mulheres no Brasil. Pesquisa do portal de empregos Catho Online, com 200 mil empresas cadastradas, mostrou que elas participam com 60% na mão de obra da área. Apesar disso, a presidente da empresa de transporte e logística UPS, Nadir Moreno, também não acredita na discriminação feminina.
Uma das executivas mais bem sucedidas do País, ela afirma que nunca presenciou a suposta rivalidade, apesar de anos de experiência no setor de RH da empresa. "No entanto, acredito que no mercado de trabalho ajuda ser bonita, mas é um elemento a mais, que pode ajudar dentro do contexto geral", afirma Nadir.
Como vice- presidente de uma associação de executivas, ela diz que os assunto que mais incomoda ainda é a diferença no tratamento entre gêneros. "A mulher chega a ganhar 25% menos."
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